segunda-feira, 15 de junho de 2009

TENHA MEDO DO TEATRO BAIANO

Isso não vai ficar impune.
O Paredão da Imprensa retoma sua programação normal de cusparadas, vômitos e defecações públicas com a denúncia de um crime ocorrido nas barbas dos homens de coturno do Quartel dos Aflitos. Ali, onde os discípulos do DOPS resolveram camuflar um imóvel como Teatro Gamboa Nova, sessões de tortura, humilhações e constrangimentos coletivos são perpetradas semanalmente sob a chancela do secretário estadual de cultura, Márcio Meirelles, o delegado Fleury das artes na Bahia. Com o conteúdo menos expressivo do que estômago de anoréxica, as peças que se revezam no local têm a mesma poesia inerente ao repertório de Amado Batista. Suspeita-se que saiam de cartaz não apenas pela escassez progressiva de público, mas pelo conhecimento das assistentes sociais do Juliano Moreira e a conseqüente custódia de autores e atores. Sabe-se, inclusive, que os bilheteiros são aposentados pelo INSS a cada 6 meses, tamanha a exposição a condições de insalubridade. Muitos são
acometidos de LER (lesão por escândalo repetitivo). O mais recente foi diagnosticado na perícia com esgotamento do hipotálamo – a região do cérebro responsável por buscar sentido e nexo nas diferentes manifestações humanas. Toda essa combinação de resíduos intelectuais fez daquela região a maior ameaça ao sistema nervoso parassimpático desde a descoberta da rotação invertida dos LPs de Fofão.
Já havia relatos na redação do Paredão da Imprensa dessa selvageria feitos por nosso Office-boy pauteiro. Ele que recebeu um vultoso aumento de remuneração e agora percebe o equivalente a 16 exemplares da Tribuna da Bahia (salário bimensal), agora que ficou barão deu pra trocar o lazer do fim de semana. Mudou do festival de sabores Cremosinho promovido na laje do barraco para idas esporádicas ao Gamboa Nova com alguma neguinha que conhece na roleta do coletivo ou os amigos marxistas dele, que por ora estão oferecendo mais-valia como porteiros no Pituba Ville ou almoxarifes da última das Lojas Pernambucanas, numa esquina do Nordeste de Amaralina e que já poderia ter colocado o nome no singular há um bom tempo. Pois as sinopses com tadas por nosso boy eram tão delirantes que todos acharam razoável admitir a dependência química pelo crack associada à passagem pela ladeira da Independência.

Até que neste fim de semana O Cobrador em pessoa – e sobrenome Silva – resolveu deixar as obrigações de sábado à noite que são tirar com pinça os pentelhos do invólucro escrotal e ter uma overdose com a fumaça da espiral de Sentinela – não necessariamente nesta ordem. Movido pela vontade de demonstrar sensibilidade a uma dama conhecida em um risca-faca da Rua Carlos Gomes e pela crise financeira internacional, levei a moça ao estrupí..., ou melhor, ao referido teatro. Nem me dei ao trabalho de saber o nome da peça, para mim interessava apenas a proximidade aos hotéis de alta rotatividade do Largo Dois de Julho.
Lá dentro, fiquei sabendo se tratar de Quem Tem Medo de Dona Margarida?, e logo lembrei que a crítica nos jornais que a estagiária de secretariado executivo lê para me passar o clipping falava em “uma professora que mostra à classe, em seu primeiro dia de aula, o modelo perfeito de aluno, partindo de seu exemplo de vida, pois ela sempre foi exemplar. Então, não tolera desobediência e nem comete injustiças”.
Pensei que quando eu falasse sobre minhas virtudes de gênio precoce na turma de dona Filomena do Colégio Central nos idos de 1930 a jovem iria ficar mais molhada do que a mãe de um deputado federal ou de um agente da Transalvador e eu teria uma noite inesquecível. Apesar do cheiro similar ao borrifador Xadrez n°5 – o preferido das celas de delegacia -, resolvi sentar com os outros 7 espectadores, contando com a menina do risca-faca, o contra-regra e a mulher que filma
va com uma câmera Eletrovision de 3 megapixels.
Pouparei os nobres leitores de um relato pormenorizado de minha experiência tão aterrorizante quanto fazer sexo com Elza Soares. Dá para dizer apenas frases desconexas sobre como ficou comprovada relatividade de Einstein ao perceber que os 70 minutos de tortura de um monólogo para dementes pareceram dois dias e meio sem água e comida. Ou que o autor, cujo nome está sendo mantido em sigilo pela trupe porque o ECA impede a divulgação de jovens com necessidades especiais em situação de risco, merece um tratamento urgente para aneurisma cerebral. Ou que a atriz, uma tal de Cecília Moura, só não precisa de tratamento odontológico, porque só os dentes prestam. Ela que resolveu ficar nua em cena por duas grandes razões – em nome da arte e para fazer este Cobrador aqui ter alguns sofridos minutos de dúvida sobre gostar ou não do sexo oposto. Com nádegas tão belas e bem cuidadas como um Box de miúdos da feira de São Joaquim, a protagonista teve uma performance que me fez lembrar elementos cênicos que remontam das tragédias gregas, como gelatina, ca
sca de laranja e – por que não – um queijo suíço. Apogeu da dramatização, a “professora” retira de dentro de uma calçola com fundilhos I Love Brazil uma... perereca de plástico. A platéia ri – não se sabe de piedade, de vergonha alheia ou por ter compartilhado o mesmo narguilé da trupe.
Há pouco mais a dizer, a não ser que dá para repensar a aplicação da pena de morte no Brasil depois de experiência do gênero. Desejar que alguns dos idealizadores morram dolorosamente de câncer ainda é pouco (até porque alguns deles já têm carcinomas em estágio avançado no cérebro). Provoquem o Ministério Público para agir, ou então invoquem o poder do Corujito para nos salvar imediatamente. Tragam para este Cobrador as vísceras ainda quentes do criminoso que escreveu aquilo.
Além de tudo, a menina do risca-faca ainda alegou náuseas ao final da odisséia e eu tive que dormir com as imagens da flacidez atormentando meu juízo – e sem o efeito narcotizante da espiral de Sentinela. Eu juro que isso não vai ficar por isso mesmo.

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