sexta-feira, 9 de outubro de 2009

LORENZINO E O ÚLTIMO MAMBO EM PARIS

Eis que surge a magia transfigurada em bits na tela do 486 que serve como upgrade de máquina de escrever aqui na redação de O Paredão da Imprensa. A epifania tem um nome: Lorenzino. A epifania tem um endereço: Paris, França. A epifania tem uma prótese perfeita em seu organismo humano: um violão. A epifania tem uma missão: encantar a todos com sua voz melodiosa e o dedilhar singelo que transformam seu instrumento em uma harpa para o coração e alma.
Como dizia o honorável poeta do Recôncavo, Jacinto Rosário Aquino Rego, "inglória e vã é a luta de palavras para tentar impor ao cérebro a impressão de uma metáfora despedaçando em cores e sinfonia a sublime e retumbante descoberta da arte", em um dos mais emocionantes versos da Língua Portuguesa.
Portanto, é inútil falar quando também vocês podem testemunhar. Com vocês, a inigualável versão de Águas de Março:

Depois de ser honrado com tamanha experiência estética, resolvi que era dever como cidadão e jornalista-canalha fazer uma síntese biográfica para o povo brasileiro deste ícone cosmopolita da arte planetária. Laurent nasceu em Dacar, capital do Senegal, e foi musicalmente educado por uma tribo de gabirus, que lá são chamados de pigmeus, cuja principal herança sonora é a orquestra de flatus - a sinfônica dos peidos.
Ali, no youtube, onde ele já colocou 400 músicas em menos de um anos e, portanto, desafia a capacidade criadora da raça humana, o espaço que a maioria dos mortais chama de "página" foi transformado em um verdadeiro templo para agradecimento pelo sentido da audição. Quem chega até www.youtube.com/lorenzino1 de imediato agradece à providência divina pela faculdade de poder ouvir.
Em seu "cantinho de milagres sonoros", Lorenzino tem mais de 130 inscritos que, humildemente, prefere chamar de amigos, mas são fãs ardorosos. Como dohertykaki, que escreveu: You picked a winner of a coverchallenge :-) I love your version too! (numa tradução livre, seria algo como "você é o mestre-dos-magos de todos os covers do planeta e nós amamos você de uma forma incondicional e visceral para sempre").
Cabe a ele a tarefa de valorizar os artistas com interpretações que emulam uma sensibilidade ímpar. Ele já gravou versões para sucessos de Stevie Wonder, David Bowie e Bob Marley, sempre colocando arranjos inovadores, mas sutis, como se estivesse ensinando aos artistas de uma maneira paciente e carinhoso, sem nenhum indício de arrogância professoral. Ele tem uma predileção por brasileiros, como Djavan, Caetano e Caymmi. Na versão que fez de Bem Que Se Quis, de Marisa Monte, Lore (como prefere ser chamado), deixou um comentário reconhecendo que a voz da diva é quase insuperável. Mas que ele achava capaz um homem executar a música em uma interpretação masculina. Como se vê, os gênios geralmente são bafejados com a humildade.
A reportagem se interessou em saber quando o disco solo de composições próprias do ícone vai ser lançado e recebeu em resposta um silêncio explicável: o mundo ainda não está preparado para as composições próprias de Laurent. Talvez só depois de 2012. Enquanto isso, podemos usufruir da versão de Killing Me Softly, cujo título, a princípio, funciona como uma recomendação prévia para a audiência:

A forma intimista como ele canta, praticamente dialogando com as mais recônditas câmaras de mucosas e serosas de seu organismo, é um elogio ao bom gosto. Certa vez, quando o invejoso João Bosco o acusou de não cantar, mas grunhir, ele retrucou, magnânimo: "minha voz, meu templo, meu tambor do peito cordial..." Em seguida, gravou um cover de Pret-a-Porter de Tafetá para mostrar que nem a crítica mais ferina é capaz de abalar seu compromisso com a arte.
Com uma métrica apurada e compassos altamente sofisticados - há um estudo sério na Bielo Rússia em que físicos quânticos, astrônomos e vendededores de taboca estão usando excertos musicais de Lorenzino para comunicação com civilizações interplanetárias -, o trabalho do ídolo sensível deve ser indicado em 2010 para o Nobel da Paz e o troféu especial Master of Sound do Grammy.
Ele jamais vai confirmar isso publicamente, mas foi depois de um breve encontro durante uma serenata no Champs Elysée que o então jovem, então baiano e não tão chato João Gilberto teve o estalo criativo para compor Desafinado. Isso foi no final da década de 50 e até hoje o precursor da bossa nova ainda rende homenagens ao guru em shows quando pede mais grave no som ou reclama da acústica. Aprendeu a ser minimamente exigente com Lorenzino.
Isso sem falar na benevolência da genética que o brindou com uma estampa de Adonis moderno. Seu charme peculiar de um gauxinim curdo tem total relação com o molde fenotípico de quem desenvolveu o corpo na escalada darwinista das savanas. Com o desprovimento de vaidade de um sapato velho, o mestre prefere direcionar as atenções todas para sua capacidade musical e não para os atributos estéticos que fazem dele um deleite para ouvidos e olhos. Enfim, Lorenzino, você é o cara.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

JULIANA CUNHA: modo de tratar

Esta semana, depois de uma situação extremamente estressante em que o chip do meu celular precisou ser usado como desfibrilador para regularizar o sistema vascular dos meus orgãos pudendos após a vasectomia, precisei ficar alguns dias acamado. O estagiário do Paredão, que eu julgava simpatizar comigo, recomendou que eu lesse blogs e indicou um certo Já Matei Por Menos. Segundo ele, seria ótimo para passar o tempo e, ainda, com a possibilidade de ler ponderações interessantes sobre O Ser e O Nada (acho que pediram para ele revisar Sartre na prova do ENEM).
Para mim foi muito útil como passatempo durante os três minutos que consegui me dedicar à leitura. E também instrutivo: descobri que é possível, sim, "retaliar" Roland Barthes sem ser médium, mesmo sabendo que ele morreu há 29 anos, e em outro continente.
Esses 5% de hora dedicados ao deleite literário neste moderno produtor de ícones da intelectualidade (a saber, os melhores blogs de todos os tempos do último concurso da MTV) me motivaram também a uma análise semiológica sobre o legado da autora.
A Autora não chegou a pedir, mas em forma de reverência vou escrever em maiúsculas. Como eu falava, a Autora, apesar de ter a certeza de reunir toda a sabedoria ocidental a partir de Da Vinci sob o capuz do casaquinho vermelho encardido que usa nas fotos, nasceu em 1987, ou seja tem 22 anos e conseguiu assistir a, no máximo, 4 Copas do Mundo.
Como dizia o meu falecido padrinho, antes de cada vez em que abusava sexualmente de mim na infância, "alguém que não viu Rivelino fazendo gol no México, não tem capacidade de dizer o que é dívida ativa". Nem acho que essa frase faça muito sentido, mas tomando umas duas no Regaço do Transistor Queimado, vai ter gente dando risada (porque não precisam ter as lembranças doídas do meu passado).
Pois as elocuções da jovem fizeram emergir o meu senso de civismo e sensibilidade humana de algum lugar caótico, débil e ocioso da minha alma, que é uma espécie de câmara de vereadores etérea do meu próprio ser. Rapidamente me inscrevi em um curso de psicologia aplicada a vespas no Instituto Universal Brasileiro e em 72 horas (contando o tempo de compensação do cheque) já estava apto a analisar as chaves ocultas para a persona, o ego e o id da Autora.
Como método científico comprovado, recolhi as frases mais representativas dentro de uma análise psico-proctológica ativa para uma subsequente interpretação.

Era a melhor foto do mundo. A minha vivitar estava na bolsa: Um caminhão de mudança aberto parado na Avenida Higienópolis, uma cadeira Luís XV em cima dele, algumas caixas, um velhinho digno sentado na cadeira comendo laranja. E eu não tirei a foto. Porque tive vergonha de pedir permissão e tudo isso. FAIL.
A mim, tudo é permitido, em nome de fazer "a melhor coisa do mundo". Mas eu sou uma pessoa comum, quase igual a vocês, mesmo sendo bem melhor. Vou contar isso em um tom piegas para mostrar que eu também tenho minha parcela gente. Aí concedo a vocês o direito rápido de me criticar. Mas por uma coisa que eu fiz para o bem do próximo.

Um idiota pra mim é essencialmente uma pessoa que não consegue se colocar no lugar dos outros. Não falo em se colocar no lugar dos outros no sentido católico e altruísta de tratar o outro como gostaríamos de ser tratados etc etc, e sim no sentido de entender qual é a dos outros. Sabe uma pessoa que, por exemplo, tem um iPhone e não consegue entender como as pessoas vivem sem um iPhone? Esse pra mim é o idiota clássico.
Eu não gosto de pessoas que sejam diferentes de mim e que, por isso mesmo, se acham normais. Mas preciso dizer isso de uma forma descolada. Que tal falar que não gosto de gente diferente de mim falando que gente que não gosta de quem é diferente não tem nada na cabeça? Talvez, quando alguém entender a metalinguagem dessa análise esteja tão dopado que vai achar isso inteligente. Ou então, quem perde tempo lendo estas merdas que eu escrevo é idiota mesmo. Ah, e já superei a fase de MP4, gente... foi logo depois que consegui derrotar o computador musical do Genius.

O objetivo de cerca de 30% dos idosos não é passar as maçãs deles na sua frente e ficar menos tempo com as varizes doendo na fila do mercado. Observe que eles até querem ficar na fila. Querem que o caixa demore e tudo isso. Porque o objetivo não é ir pra casa, o objetivo é dizer que eles são educados e você não. Eles são o retrato de uma civilização superior e em ruínas e você é o etrusco da história.
Eu ainda não sou velha, mas como sou feia, tenho o direito de pensar como uma idosa.

Meu conceito de burro é uma pessoa que tem dificuldade de aprender, preguiça, é facilmente distraível, fica irritada quando não entende (as pessoas inteligentes ficam instigadas, curiosas, desafiadas. A típica criança burra é a que joga o quebra-cabeça pra cima porque não conseguiu montar) e, uma vez tendo aprendido, esquece no minuto seguinte.
A questão é: me identifico totalmente com essa descrição.
Eu sou burra, sim, mas se tivesse me conscientizado disso há mais tempo poderia ter poupado o gasto dos meus pais com analista. Já montei alguns quebra-cabeças na vida, mas não sei dizer quantos ou quais. Acho que nesse momento, eu esqueci.

Vocês já fizeram Enem? Eu fiz. No segundo e no terceiro ano. E o Enem era mais fácil que a mais fácil das provas da escola (a saber: minha escola nunca foi um exemplo de rigidez). Ok, isso foi há muito tempo, era o começo do Enem. As coisas podem ter mudado blá blá blá. Mudou nada.
Eu sou burra, sim, mas se tivesse me conscientizado já na época do ENEM poderia ter poupado o gasto dos meus pais com analista. E não ter votado em Lula.

Um Complemento Recorrente de Expressões e Usos (conhecido em meu curso por correspondência como CREU) também foi identificado. É a aplicação, a cada dois posts, da expressão "trombetas do apocalipse", ou em título ou em texto corrido. Carece de uma análise melhor, mas o mesmo tipo de anomalia foi identificado em anões com tendências suicidas, crianças abduzidas ou bancários que sofrem do distúrbio de fim do expediente (também conhecido como alcoolismo).

Agora, o diagnóstico:

Recomenda-se a administração de sexo para a paciente, que pode ser com o gênero oposto, com o mesmo gênero ou até outras espécies de seres vivos, desde que provoquem sensações de euforia, já que atualmente para ela a maior adrenalina injetada no organismo é receber uma proposta de cartão de crédito da C&A pelo correio.

O Cobrador da Silva, PH(o).D(a)