Ah, o domingo! Este dia solene que é útil para o ocioso em serviço. Esta marcação no calendário gregoriano tão bem batizada pelos ingleses como SUNDAY! Ó dia de sublime solar, onde o soberano astro da galáxia ilumina corpos e mentes banhando de claridade e sabedoria a existência cotidiana.
Movido por esse espírito de exortação e plenitude, este O Cobrador decidiu começar o dia comprando uma baguete com manteiga e o jornal A Tarde. Já se iam 13 anos desde que comprara pela última vez um exemplar do ex-mais lido do Norte e Nordeste. Lembro que foi justamente na época em que precisava migrar para um novo cafofo e usei os Populares para encontrar o meu 4 suítes no Horto Florestal, adquirido em parte com o financiamento da Caixa, em parte com o acúmulo de anos de jabá honestamente acharcado.
Inicialmente, como um bom gourmand que sabe extrair do couvert o prenúncio de uma lauta refeição, dediquei-me a deslizar a vista por manchetes, títulos, subtítulos e chamadas, legendas, olhos e eleutrias outras da edição. A ideia era entender o que mobiliza a atenção da grande imprensa como repercutora dos anseios por informação da classe média.
Já sabemos o que norteia a busca por informação deste O Paredão, que é o princípio holístico do jornalismo sistematizado com o 5S: sexo, sangue, sofrimento, Sigmund Freud e saldo bancário positivo custe o que custar.
Pois na rápida visão dá para perceber que os editores da grande imprensa se interessam muito é pelo que viram como destaque no twitter - esse pauteiro gratuito dos ignorantes, que não
cobra por plantão e sugere temas ecléticos e diversificados, como o que Caetano Veloso
respondeu para a sobrinha Preta Gil e o que Deborah Secco vai fazer com o oitavo apartamento que comprou em conjunto com o seu grande e eterno amor da semana passada.
Pois a edição dominical do A Tarde é um amálgama de cultura, informação e pedagogia modernos. A questão da adaptação orgânica ao movimento terrestre de rotação e do chamado relógio biológico é constantemente relativizada pela publicação. Você vai ver abaixo que uma simples notinha de serviço pode virar um verdadeiro libelo contra a imposição de convenções tolas para a contemporaneidade, como horários marcados:
Indo mais adiante, encontrei um grande esforço de reportagem do gênero investigativa-fenomenológica-pirotécnica sobre fabricação de fogos de artifício no São João. Como o tema é criativo e inovador, justifica o tamanho da matéria com uma página de grandes descobertas. A manchete bombástica dá a entender que nem a mulher do prefeito fica alheia ao mercado lucrativo de traques de massa, espadas, chuvinhas e adrianinos:
Centímetros abaixo, uma cifra chama a atenção no famigerado lead: 20 mil pessoas fazem parte desta fabricação.
Continuando no mesmo princípio da dúvida aritmética, encontramos na capa de esportes outro desafio a Pitágoras. O mundo todo sabe que a Jabulani vai correr na África do Sul no dia 11 de junho. Pelo menos esse é o marketing feito sobre a abertura da Copa. Então, por qual tabuada seria plausível colocar no dia 6 de junho que "faltam 4 dias para o início da Copa"?
Mas aí, como se a constatação súbita de que aquele guisado de galinha caipira não foi bem recebido pela superfície ciliada do intestino delgado (a saber, você vai cagar mole o dia inteiro), você percebe a construção indigesta, em negrito e em destaque, no meio do texto:
Parece leviano apontar que o superintendente de trânsito é temido a ponto de ordenar uma chacina, mas não há dúvidas. o texto foi lido e relido por mais de uma pessoa com nível universitário, portanto é bom começarem a pedir antecedentes criminais antes de nomear o segundo escalão da prefeitura.