sábado, 22 de janeiro de 2011
Diálogos com Azeda
Evidentemente que esse assunto é longo como um "bom dia" de um Testemunha de Jeová e não cabe no espaço de um post e nem em um buzu Barra/Estação Pirajá às seis horas da tarde. Como eu dizia, pude conversar civilizadamente com uma jornalista sativa, quero dizer, nativa, a respeito da peça Quem Matou Maria Helena.
Provavelmente, assistimos a mesma sessão de estreia no teatro Sesc Casa do Comércio. Certamente, fui depois de receber convites de um patrocinador que este O Cobrador acharca constantemente com notinhas mais venenosas do que a marmita que o ex-Geddel faria pra João Henrique, caso aceitasse a sugestão de cozinhar pra fora. Ela, a repórter e crítica Eduarda Azeda, dada a imparcialidade e frieza com que tratou sobre a produção artística, deve ter pago os 40 reais de ingresso.
Nosso diálogo foi pouco ortodoxo. Ela resumiu suas frases em 25 linhas de texto no jornal e eu respondii como bem entendi:
Azeda - O espetáculo Quem Matou Maria Helena?, que traz o ator Frank Menezes vivendo múltiplos personagens, é garantia de muita diversão nas noites de quinta e sexta-feiras.
OCobrador - Porra, Azeda. Você conversa assim com todo mundo? Que frase mais formal para um início de diálogo. Parece até que você está iniciando um texto de jornal. Um texto que fosse ruim, por sinal.
Azeda - Pois é. O intéprete esbanja talento e versatilidade em intricada trama policial (e põe intricada nisso!), que traz ingredientes de folhetins novelescos.
OCobrador - Rapaz, toda vez que usei a palavra intricada em uma conversa eu quis falar sobre algo sem nexo.
Azeda - O texto de Cláudio Simões utiliza os clichês do gênero com muita imaginação. Tudo muito bem amarrado e justificado que, apesar das situações inverossímeis (e é isso que dá graça ao enredo), o público compra a ideia e adora.
OCobrador - Ah, Azeda, a gente estava falando sobre a peça. Complementando o que você estava dizendo, a história da peça tem tantas pontas soltas que parece mais o cabelo da Chiquinha do Chaves. Mas você que entende de arte cênica, não está mais aqui quem falou...
Azeda - A peça traz direção limpa e competente de Celso Jr., que explora o melhorde Frank Menezes, que vive vários personagens, sem recursos de caracterização.
OCobrador - Azeda, ainda bem que você acompanhou os ensaios para perceber o que Celso explora de melhor...
Azeda - Utilizando apenas as expressões facial e corporal, Frank dá vida aos personagens de uma mesma família envolvidos em suspeita de um crime bárbaro.
OCobrador - Bem lembrado, Azeda. Dado o momento atual do teatro, onde atores costumam usar apresentações do powerpoint, vídeos de pastores da Universal em 3D e até tubaína Fryllar pra dar vida aos personagens, é de impressionar que ele tenha usado apenas expressão facial e corporal. Se ele não fosse tão bom, poderia ter usado também, também, também... ah, agora esqueci o que atores de teatro usam mais para protagonizar uma peça.
Azeda - E Celso acerta em não resvalar para o humor grosseiro ou o besteirol sem consistência.
OCobrador - Ah, que pena que a gente não deve ter assistido a mesma sessão. Pois na noite que fui parece que o público deu mais risada quando ele fez uma careta imitando a "expressão facial" da morta. Ou quando Frank se arrasta de costas pelo chão. Hum... acho que essas não devem ser as cenas de humor mais, digamos, consistente.
Azeda - É bom o cenário de Márcio Meirelles, que destaca o vermelho como símbolo da paixão e crime.
OCobrador - Ah, Azeda, depois que você anda frequentando aquela escola de cromoterapia está toda por dentro dos significados das cores, hein... E ainda conseguiu perceber todo o sentido de um cenário vazio com um quadro atrás. Genial esta economia de elementos.
Azeda - E as galinhas do cenário, de Ivana Columbi, dão graça à trama.
OCobrador - Pô, me desculpe, fiquei com vontade de rir agora. Deve ser pela graça da trama.
Azeda - A peça ainda conta com bons desempenhos para voz em off, dos atores Harildo Déda, Evelin Buchegger, Celso Jr, Nilda Spencer e Wilson Mello.
OCobrador - E precisa ser mesmo ator pra gravar aqueles negócios dos telefonemas? Algumas eu pensei se tratar de Pegadinha do Mução. Mas se você disse que é bom, vou acreditar, porque você entende. Da próxima vez, a gente conversa sobre Big Brother, que é um assunto que eu domino melhor.
Azeda - Todas as quintas e sextas de janeiro...
OCobrador - Valeu, hein, Azeda. Até a próxima.
domingo, 6 de junho de 2010
UM DIA DE DOMINGO
Continuando no mesmo princípio da dúvida aritmética, encontramos na capa de esportes outro desafio a Pitágoras. O mundo todo sabe que a Jabulani vai correr na África do Sul no dia 11 de junho. Pelo menos esse é o marketing feito sobre a abertura da Copa. Então, por qual tabuada seria plausível colocar no dia 6 de junho que "faltam 4 dias para o início da Copa"?
Mas aí, como se a constatação súbita de que aquele guisado de galinha caipira não foi bem recebido pela superfície ciliada do intestino delgado (a saber, você vai cagar mole o dia inteiro), você percebe a construção indigesta, em negrito e em destaque, no meio do texto:
Parece leviano apontar que o superintendente de trânsito é temido a ponto de ordenar uma chacina, mas não há dúvidas. o texto foi lido e relido por mais de uma pessoa com nível universitário, portanto é bom começarem a pedir antecedentes criminais antes de nomear o segundo escalão da prefeitura.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
ENTREVISTA COM SOCIALITE
sábado, 1 de maio de 2010
A MILÉSIMA SEGUNDA NOITE NA LADEIRA DA BARRA
Este O Paredão testemunhou um evento noturno no petit comitée da Ladeira da Barra e constatou que definitivamente o nosso colunista do segundo caderno acertou ao prever que a C&A fez bem em contratar Ivete Sangalo como garota-propaganda (não preciso dar maiores detalhes sobre essa constatação, mas podem ver se nas filas da referida loja de departamento neste exato momento não estão serviçais que atendem ao gênero "senhoras-em-vias-de-falência", cuidando para a renovação do guarda-roupa).
A primeira observação do nosso estagiário etílico foi a solidariedade entre os garçons do buffet e os tequileiros. Aqueles pedem a estes para retirar o maior número de itens da bandeja e assim aliviar mãos dos olhos de abutre dos antes-ricos. O peso de equilibrar entrar o sorriso de gentileza mal paga e o desejo que essa raça agonize sem vestígios de pompa.
É sintomático quando uma banda-baile escolhe para o repertório a música Dou a Vida por Um Beijo, de Zezé di Camargo e Luciano ("difícil demais te amar assim..."), antes executada exclusivamente em bares de alcólatras corneados do subúrbio ferroviário. Sinal dos tempos. Se tiver versão acústica, com metais em um arranjo novo, já há o pretexto suficiente para se tornar cult (o nome do brega de quem se julga rico).
A vida de aparências (ou histórias de fazer dormir gente grande), poderia ser um título de um livro psicografado de Clarice Lispector, mas é a sinopse para qualquer convescote da grã-finagem, encontros que se tornaram a antítese do capitalismo. O dinheiro não gira - porque não existe -, tudo é permuta, os serviços são trocados, a comida é distribuída em troca de uso de propaganda, ninguém precisa pagar a ninguém, todas as ararinhas azuis permanecem em extinção e as últimas continuam engaioladas. Doze bolinhos de frango fritos valem uma notinha na coluna social de um informativo para consultórios médicos.
Enquanto isso, pingentes de strass adornam pescoços flácidos que 40 anos antes ostentavam ouro 18 quilates, ex-damas fazem biquinho para beber espumante e garotas de farmácia não seguram o dedo mindinho ao elevar a taça.
O fotógrafo contratado ganha por produtividade, por isso precisa sugerir que o máximo de pessoas sorriam, mesmo que isso implique em fisionomais mais artificiais do que os muitos seios do salão. Alguns whiskies de 8 anos são sorvidos com a cerimônia de maltes escoceses, enquanto o espumante travoso de umbu-cajá é nacional mesmo. Mudam-se os tempos, mudam-se as exigências de paladares.
Os preparadores de coquetel, que recentemente passaram na segunda fase de alguma matrícula em formato vestibular, continuam tratados pelos garçons como se fossem acompanhados dos respectivos avatares, só isso para explicar porque são servidos em dobro no fundo do salão. De repente, um deles saca o celular piscante e balança para o colega: "é mulher, viado". Definitivamente, quando fenômenos desse nível reptiliano de evolução encefálica viram assunto de cobertura jornalística é porque a banda continua insistindo no repertório "as melhores já tocadas por quem tem a mãe no mangue".
Rodas de amigas se revezam para tirar fotos em câmeras de 8 a 10 megapixels: individuais (sentadas na banqueta alta), ou coletivas (prendendo a respiração e tentando reduzir medidas abdominais bem disfarçadas em vestidos).
(Nesse momento, todos saíram da frente e minha imagem surge em um espelho do tamanho do pé-direito, de tal sorte que é até difícil o auto-reconhecimento; pensei que estava na festa mas a fotografia é de um homem com o queixo apoiado em uma das mãos, camisa branca, olhando para o nada, expressão semelhante a quem é internado por ingestão de salmonela).
sexta-feira, 19 de março de 2010
FASHION APOCALIPSE
Coleção
Iniciamos a estação observando as fronteiras permeáveis do universo. Sentimos o pulso contínuo do tempo que direciona o futuro. Sonhamos com um mundo onírico. Sentimos o efêmero, a metamorfose e a aurora com suas cores e brilhos suave, como ninfas que dançam e transformam a atmosfera. Inspiramo-nos na leveza dos movimentos e exuberância da natureza tropical e as riquezas desse planeta único para contemplar a vida, sua multiplicidade. Deslumbramento.
Tudo isso nos conduziu a um estado de graça. Sensibilidade. Quimera.
Depois dessa, só um comentário: acaba, mundo, que do jeito que está aí é pauta demais para O Paredão.
sábado, 13 de março de 2010
5 contra alguns
Pessoas que fumam maconha (aka maconheiros) são privilegiadas nessa vida. Eles sempre são perdoados por tudo (ahhh, são apenas um bando de maconheiros), terminam isentos de imposto de renda, como os cardiopatas crônicos e os transplantados de rins, e ainda formam uma raça de beneficiados pelo programa canabis família. Na prática, maconheiro pode qualquer coisa, sem risco de sanções, admoestações, e o pior, sem autorização para serem atacados com frouxos de risos.
Digo isso motivado pela excursão cultural ao Teatro Vila Velha pra testemunhar a agonia da humanidade rumo a 2012. Neste caso, o capítulo: 5 sobre o mesmo, que começou piadisticamente com o apelido de 5 contra 1 (alusão onanista a algo que não poderíamos prever ser mais insosso que uma punheta) e terminou como 5 contra alguns (os performáticos atacando as glândulas pineais que gerem o bom senso dos 13 espectadores). Chamar aqui de espetáculo de dança é apenas uma colocação benevolente a malcriações de um grupo de pessoas que fumam maconha (aka maconheiros). Do mesmo jeito que você chama de banda aquele barulho crucificante que os colegas de seu filho do sétimo período fazem quando se juntam, microfones de Playstation nas mãos.
No caso daqueles, pessoas de comportamento erudito com catchup e maionese, frases de efeito fast food e propostas cult cream cracker, a ocupação, segundo críticos cremogema, é em "propor uma experiência autônoma e isolada, no qual o espaço e outros recursos cênicos, como a luz, a música e o cenário, por exemplo, só se tornaram conhecidos quatro dias antes da estreia". Como diria Obama, "talk for sleeping cow".
Pois pessoas que fumam maconha (aka maconheiros) nesse momento estão recebendo subvenção pública oficial para pesquisar, experimentar, delinear, coreografar e manipular modalidades de expressões artísticas, mesmo que isso seja o outro nome para imitações de ataques epiléticos, mímicas de treinamentos para comissárias de bordo ou reinterpretações da dança do glu glu de Sérgio mallandro na Oradukapeta. Tudo isso sem que seja cobrada qualquer contrapartida estética, ética, conceitual ou porra nenhuma, nem seja divulgada em edital a verba do orçamento gasta em erva doce para tanto. O pior é que ninguém pode falar nada, nem interromper o lixo com uma tosse ou arrotos poéticos no meio da catarse de lodo humano. Tem que pagar os oito contos e assistir calado para valorizar a cultura baiana.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
PRÉ-SAL, O TESTEMUNHAL OCULTO E QUEM PAGA A CONTA
Ouço o famoso âncora de um programa de difamações e lobbys no rádio falando como se quisesse ter uma conversa mais pessoal e franca com a meia dúzia de ouvintes que atendem ainda não pediram para parar o mundo e eles descerem. Ele tem a voz de um vovô da carochinha, como se quisesse contar melhor uma fábula de pescador. O que parece mesmo o prólogo de uma anedota se mostra uma propaganda descarada do Pré-Sal, a título de informação gratuita sobre os benefícios da arrojada iniciativa da Petrobras. Arrojada também é o nome que alguns marqueteiros usaram quando resolveram rasgar as páginas do dicionário onde estão escritas as palavras eleitoreira, arriscada e irresponsável.
Porque se fosse mesmo para contar uma história aos netinhos até o apocalipse poderia ser dito sobre Pré-Sal e a perfuração de camadas geológicas até então inacessíveis. Quando as placas tectônicas ficarem revoltadas e começarem a reagir deve ser a iminência do 2012. Nesse caso, a historinha seria bem mais interessante, rica em subsídios para especulações (como todo bom conto), e até mais honesta. Só que parecem pagar bem melhor para contar ficções que rendem eleições.